Não, eu não botei um ovo. Mas foi quase!
Entrei de licença-maternidade um mês antes da data prevista para o parto (03/11). Como trabalhava em loja, estava exausta, com um barrigão enorme e passando todos os males de final de gestação: azia 25hs por dia, incontinência urinária, inchada feito um balão e pesada, muito pesada! Engordei lindos 30 quilos (um absurdo que não pretendo repetir). Já não dormia, porque ia umas 20 vezes ao banheiro durante a noite. Já não comia, porque não cabia. Então, para aliviar a ansiedade eu andava. Pra resolver os últimos detalhes da chegada de Malu. E faltava quase tudo! Isso porque durante toda a gravidez, Leo e eu estávamos montando a casa, que durante muito tempo ficou mais parecendo acampamento hippie (palavras do Leo). O único cômodo que estava impecavelmente decorado era o quartinho rosa... Então no mês de outubro eu fui providenciar a mala da maternidade. Comprar aquelas calcinhas gigantes, absorventes gigantes, camisolas gigantes, soutiens tamanho 52 (acreditam???). E queria também ter um tempinho para relaxar, me despedir da barriga, me preparar para o parto, pois sabia que tinha de estar estar emocionalmente e psicologicamente bem, tranquila. Queria também tirar umas fotinhas, porque, esse visual "engoli uma melancia" deixa qualquer mulher radiante, né não? Então, no feriado de 12 de outubro acordei e intimei meu fotógrafo exclusivo, o Leo, a registrar meus últimos momentos de barriguda. Com direito a cunhada como assistente de produção e tudo!
No dia 23 de outubro, as meninas da ONG vieram aqui em casa para o meu chá de bençãos. Meu e da Vívian. O chá de bençãos é uma reunião que fazemos na casa da gestante que está prestes a ganhar neném (depois de 38 semanas) para fazer-lhe escalda-pés (que estimula o TP), massagens, conversar sobre o parto, fazer uma oração pedindo bençãos para a hora P. Foi delicioso! Uma tarde super-agradável, quando conheci melhor minha querida amiga de barriga Vívian. Quem também estava quase dando à luz era a Geo, mas mesmo assim ela se sentou no chão e fez escalda-pés e massagem nos meus pés. Um anjo!
Eu, Vivi, Malu e Theo (uma semana de diferença)
Geo, Vívian e eu
Conforme o mês ia passando, se aproximava o meu aniversário. Havia uma possibilidade (muito aleatória) de Malu nascer nessa data. Uma semana antes da prevista. Mas para o bem da nossa individualidade, esse dia (27/10) continua sendo só meu! No final de semana que se seguia haveria um feriadão, o de finados. Mas como teria votação em segundo turno para presidente no domingo não viajamos (a meu contra-gosto).
No sábado, com 39 semanas e meia fui à última roda Bem Nascer (encontros mensais para falar sobre gestação e parto). Estava um pouco insegura, com medo de não conseguir. A verdade é que estava cansada (como disse no último post antes de Malu nascer). Cansada de ter de brigar com todo mundo para defender minha vontade. Hoje me arrependo de ter compartilhado meu desejo com pessoas que não estavam preparadas para receber e acabei me abalando com os deboches, com a falta de incentivo e confiança. No domingo fui votar também a contra-gosto, pois estava parecendo uma dinossaura choca e só queria ficar em casa. Segundona, dia 1º de novembro, me senti mais inchada que o normal e resolvi ir ao médico. Fomos no plantão mesmo, no Santa Fé, onde seria meu parto (diga-se passagem, do lado de casa). Por sorte o Dr. Emmerson estava lá. Ele é do Nucleo Bem Nascer (uma rede de profissionais da saúde e do parto que ministram palestras sobre gestação, parto e amamentação). Ele me tranquilizou e disse que estava ainda com 2 cm de dilatação. Então poderia ser logo ou demorar muito ainda. Me recomendou os "3 hots para o parto" hot food, hot bath e hot sex. Obedeci (rs!). Lá pelas 10 da noite desse mesmo dia, Leo assistindo tv e eu na internet, sentados no sofá, sinto uma água escorrendo e molhando muito meu vestido, e o sofá... Me lembro que fiquei meio eufórica! Olhei pro Leo e disse: a bolsa estourou! E ele respondeu daquele jeito dele: "sério?! Aí, tentei manter a calma, liguei pro Dr. João (custou a atender). Ele me disse para esperar o trabalho de parto ficar ativo, seja, contrações com intervalos de 3 a 4 minutos. Então fui tomar banho. A mala estava pronta, estava tudo pronto. Não estava com pressa, porque levaríamos 5 minutos para chegar à maternidade. Aliás, pela minha vontade, iríamos a pé. Mas minha vontade não teve muita força nesse dia. E foi aí que os planos foram sendo alterados, sem que eu me desse conta... Quando saí do banho e comecei a me vestir, senti algumas contrações espaçadas mas ainda suportáveis. O Leo estava tranquilo, mas insistia para que fossemos logo para a maternidade, porque era alí do lado, blá,blá,blá. Liguei novamente pro Dr. João e informei a ele que iria pro Santa Fé e esperaria por ele lá. Nisso o Leo já tinha ligado pra família dele e minutos depois que havíamos chegado, estavam todos lá. A moça da recepção sugeriu que um médico de plantão desse uma olhada em mim enquanto meu médico não chegava. No exame de toque constatou os mesmos 2 cm de horas antes. Normal. Eu sabia (minha cabeça sabia) que o colo do útero poderia demorar muitas horas ou dias para dilatar totalmente, mas senti uma pontinha de agonia. Eu não queria me internar antes do Dr. João chegar, mas o pessoal todo na recepção do hospital com aquelas caras de desespero e dó (porque nessa hora eu já tinha que agachar pra suportar as contrações). Resolvi subir para o quarto e aguardar lá. Minha mãe chegou também, mas ficou no carro, porque estava muito nervosa..rs! Tínhamos combinado com a Érica, prima do Leo, que estudava enfermagem (hoje é enfermeira), para ficar com a gente dando uma força e registrando tudo. Ela seria minha "Doula". Ela ficava o tempo todo contando o tempo das contrações e me dando notícias: "Estão espaçadas ainda... Vai demorar". E isso me deixava meio apreensiva. Fiquei andando de um lado para o outro no hospital para ver se ajudava a dilatar.
Antes de subir para o quarto, tive vontade de comer biscoito passatempo e tomar toddynho (meu último desejo de grávida!). Queria ir na Araújo a pé comprar, mas não me deixaram. Minha mãe é quem foi. Já no quarto, pouco depois chegou Dr. João. Fez um toque e estava com um pouco mais que 2 cm... quase 3, segundo ele. Pensei, opa! Que bom, estamos evoluindo... As contrações começaram a ficar muuuuuito doloridas e cada vez menos espaçadas. Eu estava tensa. A Érica não parava de contar o tempo e me manter informada. Dr. João sentou no sofá do quarto e dormiu. O Leo, tadinho, se pudesse trocava de lugar comigo, tamanha era sua impotência. Decidi ir pro chuveiro. Tinha esquecido minha bola de pilates, então me sentei num banquinho e fiquei lá debaixo d'água. Pedi para apagar todas as luzes e apenas as luzes do corredor iluminavam o quarto e o banheiro. As horas passavam e fui ficando com medo, mas pedindo a Deus para me amparar, me dar forças e serenidade. Eu estava tensa! Aquele ambiente, a penumbra, o silêncio, que era para ser acolhedor, estava me deixando angustiada. Me sentia sozinha, mesmo não estando. Eu havia escolhido tudo aquilo. Eu escolhi o Dr. João porque sabia que ele não iria interferir no parto, e foi o que ele fez. Só que eu cheguei em um ponto que não sabia mais se andava, se ficava deitada, sentada debaixo do chuveiro. Por mais amor e boa vontade que o Leo e a Érica tiveram, eles também não sabiam o que fazer. Quando vinha uma contração eu me agarrava na Érica e ficava abraçada nela até passar. Me lembro que em um dos momentos que estava no banho, sozinha, cantando pra tentar relaxar, ouvia um choro desconsolado de um recém-nascido no quarto ao lado. E aí eu tive receio de fazer barulho e fiquei caladinha para não incomodar...
Eu não consegui me desligar nem um minuto sequer. Relaxar, nem pensar. No meio da madrugada mais um toque: 4 cm. Ainda! Eu pensei. Eu não vou aguentar. Pensei também... Às sete da amanhã, não aguentava mais tanta dor e pedi anestesia. Fui pro bloco cirúrgico bem frustrada. Já não seria natural o parto. Mas pedi uma bem fraquinha, para não me atrapalhar os movimentos. Sentar na maca para receber a peridural foi uma tortura. Eu tinha que ficar imóvel, mas quando a contração vinha meu corpo se curvava sozinho, por vontade própria. Aí fiquei conectada ao soro e só podia ficar perto da maca. Estava exausta! Quando fechava os olhos pensava que não abriria mais. Mas não parei de andar. Fiquei rodando em volta da maca, o Leo atrás, segurando o soro. Um episódio hilário, que de lembrar hoje me dá uma vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Enquanto andava me balançando em volta da maca o Leo começou a cantar "olha o passo do elefantinho". De fato eu estava andando bem no rítmo dessa música. E também estava realmente parecida com um elefante. Aquilo me fez rir na hora!
Dr. João anunciou: Vamos esperar até 8 da manhã para fazer outro toque. Se não tiver dilatado, faremos a cesárea, ok? E saiu do bloco. O Leo olhou pra mim e disse "ok?" Como quem diz: você não vai criar caso, né? Nem sei o que eu senti nessa hora. Um misto de frustração, medo, arrependimento.. ai! Tinha um relógio pendurado na parede e eu não conseguia tirar os olhos dele. Quando Dr. João entrou na sala eu comecei a chorar compulsivamente. Eu estava encurralada. Não conseguia parar de chorar. Me deitaram na maca para tomar a Ráqui e lá vai eu ficar que nem estátua sentindo contração. Eu só pedia pro Dr. João, pro Léo e pra todo mundo não amarrarem meus braços, não me sedarem e para trazerem Malu pros meus braços imediatamente após ser retirada. O Leo ficou do meu lado, e a Érica tirando as fotos. Pedi para abaixarem o campo cirúrgico, pois queria ver quando ela saísse. Quando ouvi o chorinho meu coração disparou. Pedi para colocarem ela para mamar. Ela estava chorando forte e quando veio pro meu colo (literalmente o colo) parou e me olhou. Vendo as fotos, posso jurar que vi um sorriso. Pedi para colocarem ela para mamar. Mas naquela posição era muito complicado. Estava com medo de pegá-la, de machucá-la (ai que arrependimento!).
Então logo a levaram para longe para as avaliações, pesar, medir, pingar colírio, aspirar e todas essas agressões a um serzinho tão indefeso, que acabou de sair de um lugar quentinho e escuro.
Agarrou o dedo do pai
Depois me levaram para a sala de recuperação, para aguardar o efeito da anestesia passar. Ouvi dizer que só deixam a gente ir pro quarto quando conseguimos mexes os pés. Acho que minha vontade de pegar logo minha filha era tanta que em nenhum momento perdi os movimentos dos pés. Mas mesmo assim tive que ficar uma hora deitada na maca, naquela sala... Quando me levaram para o quarto Malu não estava lá. Pedi que minha mãe e o Leo fossem imediatamente buscá-la. Quando chegou quis logo colocá-la no peito para mamar. Ela veio igual um cachorrinho (olha a analogia de novo!) procurando o peito, cheirando...rs! Quando Malu começou a mamar eu fiquei em paz. Ainda estava sob efeito da anestesia (estou até hoje!) e não sentia dor, apesar do incômodo de estar conectada ao soro, que dificultava quando precisava tirar a camisola da maternidade para amamentar. E não conseguia me levantar sem ajuda. Lembro que queria ficar alí, com meu bebê no colo pra sempre. Mas todos me diziam para colocá-la no berço, pois iria cansar seu corpinho. Gente, parece que me deu um branco de tudo o que havia lido e aprendido durante a gravidez. De que o colo da mãe é tudo o que o bebê quer quando nasce e pelo resto de sua vida de bebê. Ficar na maternidade por 3 dias por causa da cesárea foi uma tortura pra mim. Eu estava exausta e sentindo dor. Não tomei analgésicos, pois Malu já havia recebido química suficiente no parto. Não consegui fazer xixi por dois dias por causa da anestesia e as enfermeiras diziam que se não conseguisse colocariam sonda. Deus me livre! Graças à Deus, depois de me concentrar profundamente nos meus movimentos perineais, consegui e foi um alívio (muito anti-romântico contar isso aqui, mas tenho que ser fiel aos fatos!).
Primeira mamada!
Recebi muitas visitas queridas na maternidade. Me senti acolhida naquele momento de fragilidade. Estava um pouco envergonhada, porque estava parecendo um farrapo humano. Cheia de olheiras por ficar sem dormir (não preguei o olho na maternidade), descabelada (nem me lembro porque, mas não lavei s cabelos lá), ainda inchada e praticamente nua na frente de todo mundo, porque não me lembrei de comprar roupas para amamentar, então ficava só de camisola, um trapo!
Ana e João, amigos queridos
Juliana e Luciana, primas do Leo
Lydi (amiga-irmã) e Emerson amigos queridos e culpados pelo nascimento de Malu, hehe
Marina, tia (irmã de coração do Leo)
Da esquerda pra direita: Lidia (mãe da Lydi), Lílian (tia e madrinha, irmã do Leo) Gê (vovó, mãe do Leo), Nenzinho (vovô, pai do Leo), Lydi e Emerson, Leo (papai) Eu (mamãe) Malu (bebê) André (tio e padrinho, meu irmão), Bruno (tio, meu irmão), Daniel (tio, meu irmão) Fernando (vovô, meu pai).
Izabella, minha prima
Cristiane, prima do Leo
Marcus e Fernanda, sócio do Leo com a esposa
Mas enfim, esse texto desse tamanho não poderia terminar assim, sem mais. Aqui vão algumas conclusões, erros, lições e dicas para quem quiser ouvir e aplicar:
1 - Não contratei uma doula. A doula, para quem não sabe, é uma mulher que acompanha e dá suporte físico e emocional (principalmente) a outras mulheres antes, durante e depois do parto. Ela pode fazer massagens para alívio da dor, sugerir posições mais favoráveis ao parto, pode ser uma porta-voz das vontades da parturiente, uma vez que esta precisa estar relaxada e não preocupada com as burocracias e protocolos. Ela tranquiliza e encoraja a parturiente. Ela dá suporte ao marido desesperado e deixa a parturiente livre para relaxar e o trabalho de parto fluir.
2 - Fui cedo demais para a maternidade. O ideal é aguardar até que o trabalho de parto esteja bem ativo, pois o ambiente hospitalar pode inibir ou até mesmo travar o trabalho de parto. Sem contar que a partir do momento em que se entra no hospital é acionado um cronômetro em que time is money.
3 - Não desliguei o neo-cortex (parte mais desenvolvida e complexa do cérebro, que está envolvido com movimentos voluntários, racionais). Como já contei aqui no blog, o trabalho de parto, ou seja, as contrações do útero dependem da liberação de um hormônio chamado ocitocina, que é estimulado pelas endorfinas e inibido pela adrenalina, ou seja, precisa de um ambiente propício e de muito relaxamento. O medo, a angústia, a tensão liberam adrenalina. Ficar contando contrações, olhando relógio, medindo dilatação, preocupação com o Leo e todos lá na recepção me achando uma louca por não querer anestesia e ficar andando pelo corredor, somados ao ambiente hospitalar, me deixaram tensa e isso dificultou o trabalho de parto.
Vocês devem estar agora se perguntando: Ué, mas porque essa ladainha toda? Essa lamentação? Maria Luisa, graças à Deus, não nasceu bem, não está aí linda, esperta, saudável? Não correu tudo bem? Você está bem! Sim, minha gente! Graças Deus tudo correu bem! Eu agradeço todos os dias por isso. E hoje estou muito resignada pelo meu não-parto. Mas continuo não desejando uma cesárea nem para meu pior inimigo espiritual (porque encarnado não tenho nenhum, graças à Deus). Eu questionei minha cirurgia por muito tempo. Fiquei achando que tinha sido desnecessária. Mas hoje até aceito a possibilidade de ter sido bem indicada. Até porque confio no Dr. João Batista, que é um médico muito consciente a não me faria correr esse risco em vão. E hoje, me lembrando, eu lamento sim por não ter sentido meu bebê nascer de mim. Por não ter vivenciado com prazer o meu trabalho de parto. Pelas dores que senti (dos pontos da cirurgia), pelo desconforto de me sentir presa, com movimentos tolhidos. Da angústia de não poder me levantar prontamente para acudir minha bbzica que chorava de noite. Pela depressão pós-parto. Mas lamento muito mais por que Malu teve que passar por todos aqueles procedimentos longe de mim. Que não mamou na primeira hora, dificultando a descida do meu leite (depois conto sobre a saga da amamentação).
Malu não vai nascer de novo nessa vida. Para superar as dificuldades da cirurgia, me desdobrei e fiz por ela tudo o que ela precisava, mesmo que me custasse as vísceras! E para o (s) proximo (s), pretendo fazer diferente o que fiz de errado dessa vez, mas acima de tudo, confiar em Deus e nos planos que Ele tem para mim.
Um beijo e obrigada aos que conseguiram ler até final!
Maria Luisa nasceu no dia 02 de novembro de 2010, às 8hs de uma manhã chuvosa