segunda-feira, 16 de abril de 2012

É triste a dor do não-parto



Não, eu não botei um ovo. Mas foi quase!



Bom pessoal, chegou o momento de falar sobre um tema que, quem acompanha o blog desde o início sabe, foi motivo de grandes lutas internas e externas que travei durante toda a minha gestação: O parto. Vocês sabem do meu desejo de trazer Maria Luisa ao mundo através de um parto natural, não sabem? Pois é, ela nasceu de cesárea. Sabem também que faço parte de uma ONG que apoia o parto normal, a Bem Nascer, e foi através dela que me informei e aprendi que cesárea não é parto, é cirurgia. Mas enfim, o que quero postar hoje no blog é o meu relato de não-parto. Para quê escrevemos esses relatos? Para recapitular como tudo aconteceu, para relembrar os momentos de alegria e emoção, para identificar e aprender com os erros, para deixar para nossos filhos lerem e saberem exatamente como vieram ao mundo; porque se a gente não escreve, depois de um tempo fatalmente nos esquecemos dos detalhes, especialmente aqueles que nos fizeram sofrer e pensar: "não quero ter mais filhos"! Porque a natureza é sábia e para o ser humano não ficar extinto, nos esquecemos de todos os perrengues que passamos com as crias, desde o nascimento, hehe!! Então vamos ver se a memória está ok:


Entrei de licença-maternidade um mês antes da data prevista para o parto (03/11). Como trabalhava em loja, estava exausta, com um barrigão enorme e passando todos os males de final de gestação: azia 25hs por dia, incontinência urinária, inchada feito um balão e pesada, muito pesada! Engordei lindos 30 quilos (um absurdo que não pretendo repetir). Já não dormia, porque ia umas 20 vezes ao banheiro durante a noite. Já não comia, porque não cabia. Então, para aliviar a ansiedade eu andava. Pra resolver os últimos detalhes da chegada de Malu. E faltava quase tudo! Isso porque durante toda a gravidez, Leo e eu estávamos montando a casa, que durante muito tempo ficou mais parecendo acampamento hippie (palavras do Leo). O único cômodo que estava impecavelmente decorado era o quartinho rosa... Então no mês de outubro eu fui providenciar a mala da maternidade. Comprar aquelas calcinhas gigantes, absorventes gigantes, camisolas gigantes, soutiens tamanho 52 (acreditam???). E queria também ter um tempinho para relaxar, me despedir da barriga, me preparar para o parto, pois sabia que tinha de estar estar emocionalmente e psicologicamente bem, tranquila. Queria também tirar umas fotinhas, porque, esse visual "engoli uma melancia" deixa qualquer mulher radiante, né não? Então, no feriado de 12 de outubro acordei e intimei meu fotógrafo exclusivo, o Leo, a registrar meus últimos momentos de barriguda. Com direito a cunhada como assistente de produção e tudo!



No dia 23 de outubro, as meninas da ONG vieram aqui em casa para o meu chá de bençãos. Meu e da Vívian. O chá de bençãos é uma reunião que fazemos na casa da gestante que está prestes a ganhar neném (depois de 38 semanas) para fazer-lhe escalda-pés (que estimula o TP), massagens, conversar sobre o parto, fazer uma oração pedindo bençãos para a hora P. Foi delicioso! Uma tarde super-agradável, quando conheci melhor minha querida amiga de barriga Vívian. Quem também estava quase dando à luz era a Geo, mas mesmo assim ela se sentou no chão e fez escalda-pés e massagem nos meus pés. Um anjo!





Eu, Vivi, Malu e Theo (uma semana de diferença)


Geo, Vívian e eu





Conforme o mês ia passando, se aproximava o meu aniversário. Havia uma possibilidade (muito aleatória) de Malu nascer nessa data. Uma semana antes da prevista. Mas para o bem da nossa individualidade, esse dia (27/10) continua sendo só meu! No final de semana que se seguia haveria um feriadão, o de finados. Mas como teria votação em segundo turno para presidente no domingo não viajamos (a meu contra-gosto). 

No sábado, com 39 semanas e meia fui à última roda Bem Nascer (encontros mensais para falar sobre gestação e parto). Estava um pouco insegura, com medo de não conseguir. A verdade é que estava cansada (como disse no último post antes de Malu nascer). Cansada de ter de brigar com todo mundo para defender minha vontade. Hoje me arrependo de ter compartilhado meu desejo com pessoas que não estavam preparadas para receber e acabei me abalando com os deboches, com a falta de incentivo e confiança. No domingo fui votar também a contra-gosto, pois estava parecendo uma dinossaura choca e só queria ficar em casa. Segundona, dia 1º de novembro, me senti mais inchada que o normal e resolvi ir ao médico. Fomos no plantão mesmo, no Santa Fé, onde seria meu parto (diga-se passagem, do lado de casa). Por sorte o Dr. Emmerson estava lá. Ele é do Nucleo Bem Nascer (uma rede de profissionais da saúde e do parto que ministram palestras sobre gestação, parto e amamentação). Ele me tranquilizou e disse que estava ainda com 2 cm de dilatação. Então poderia ser logo ou demorar muito ainda. Me recomendou os "3 hots para o parto" hot food, hot bath e hot sex. Obedeci (rs!). Lá pelas 10 da noite desse mesmo dia, Leo assistindo tv e eu na internet, sentados no sofá, sinto uma água escorrendo e molhando muito meu vestido, e o sofá... Me lembro que fiquei meio eufórica! Olhei pro Leo e disse: a bolsa estourou! E ele respondeu daquele jeito dele: "sério?! Aí, tentei manter a calma, liguei pro Dr. João (custou a atender). Ele me disse para esperar o trabalho de parto ficar ativo, seja, contrações com intervalos de 3 a 4 minutos. Então fui tomar banho. A mala estava pronta, estava tudo pronto. Não estava com pressa, porque levaríamos 5 minutos para chegar à maternidade. Aliás, pela minha vontade, iríamos a pé. Mas minha vontade não teve muita força nesse dia. E foi aí que os planos foram sendo alterados, sem que eu me desse conta... Quando saí do banho e comecei a me vestir, senti algumas contrações espaçadas mas ainda suportáveis. O Leo estava tranquilo, mas insistia para que fossemos logo para a maternidade, porque era alí do lado, blá,blá,blá. Liguei novamente pro Dr. João e informei a ele que iria pro Santa Fé e esperaria por ele lá. Nisso o Leo já tinha ligado pra família dele e minutos depois que havíamos chegado, estavam todos lá. A moça da recepção sugeriu que um médico de plantão desse uma olhada em mim enquanto meu médico não chegava. No exame de toque constatou os mesmos 2 cm de horas antes. Normal. Eu sabia (minha cabeça sabia) que o colo do útero poderia demorar muitas horas ou dias para dilatar totalmente, mas senti uma pontinha de agonia. Eu não queria me internar antes do Dr. João chegar, mas o pessoal todo na recepção do hospital com aquelas caras de desespero e dó (porque nessa hora eu já tinha que agachar pra suportar as contrações). Resolvi subir para o quarto e aguardar lá. Minha mãe chegou também, mas ficou no carro, porque estava muito nervosa..rs! Tínhamos combinado com a Érica, prima do Leo, que estudava enfermagem (hoje é enfermeira), para ficar com a gente dando uma força e registrando tudo. Ela seria minha "Doula". Ela ficava o tempo todo contando o tempo das contrações e me dando notícias: "Estão espaçadas ainda... Vai demorar". E isso me deixava meio apreensiva. Fiquei andando de um lado para o outro no hospital para ver se ajudava a dilatar.




 Antes de subir para o quarto, tive vontade de comer biscoito passatempo e tomar toddynho (meu último desejo de grávida!). Queria ir na Araújo a pé comprar, mas não me deixaram. Minha mãe é quem foi. Já no quarto, pouco depois chegou Dr. João. Fez um toque e estava com um pouco mais que 2 cm... quase 3, segundo ele. Pensei, opa! Que bom, estamos evoluindo... As contrações começaram a ficar muuuuuito doloridas e cada vez menos espaçadas. Eu estava tensa. A Érica não parava de contar o tempo e me manter informada. Dr. João sentou no sofá do quarto e dormiu. O Leo, tadinho, se pudesse trocava de lugar comigo, tamanha era sua impotência. Decidi ir pro chuveiro. Tinha esquecido minha bola de pilates, então me sentei num banquinho e fiquei lá debaixo d'água. Pedi para apagar todas as luzes e apenas as luzes do corredor iluminavam o quarto e o banheiro. As horas passavam e fui ficando com medo, mas pedindo a Deus para me amparar, me dar forças e serenidade. Eu estava tensa! Aquele ambiente, a penumbra, o silêncio, que era para ser acolhedor, estava me deixando angustiada. Me sentia sozinha, mesmo não estando. Eu havia escolhido tudo aquilo. Eu escolhi o Dr. João porque sabia que ele não iria interferir no parto, e foi o que ele fez. Só que eu cheguei em um ponto que não sabia mais se andava, se ficava deitada, sentada debaixo do chuveiro. Por mais amor e boa vontade que o Leo e a Érica tiveram, eles também não sabiam o que fazer. Quando vinha uma contração eu me agarrava na Érica e ficava abraçada nela até passar.  Me lembro que em um dos momentos que estava no banho, sozinha, cantando pra tentar relaxar, ouvia um choro desconsolado de um recém-nascido no quarto ao lado. E aí eu tive receio de fazer barulho e fiquei caladinha para não incomodar... 




Eu não consegui me desligar nem um minuto sequer. Relaxar, nem pensar. No meio da madrugada mais um toque: 4 cm. Ainda! Eu pensei. Eu não vou aguentar. Pensei também... Às sete da amanhã, não aguentava mais tanta dor e pedi anestesia. Fui pro bloco cirúrgico bem frustrada. Já não seria natural o parto. Mas pedi uma bem fraquinha, para não me atrapalhar os movimentos. Sentar na maca para receber a peridural foi uma tortura. Eu tinha que ficar imóvel, mas quando a contração vinha meu corpo se curvava sozinho, por vontade própria. Aí fiquei conectada ao soro e só podia ficar perto da maca. Estava exausta! Quando fechava os olhos pensava que não abriria mais. Mas não parei de andar. Fiquei rodando em volta da maca, o Leo atrás, segurando o soro.  Um episódio hilário, que de lembrar hoje me dá uma vontade de rir e chorar ao mesmo tempo. Enquanto andava me balançando em volta da maca o Leo começou a cantar "olha o passo do elefantinho". De fato eu estava andando bem no rítmo dessa música. E também estava realmente parecida com um elefante. Aquilo me fez rir na hora! 
Dr. João anunciou: Vamos esperar até 8 da manhã para fazer outro toque. Se não tiver dilatado, faremos a cesárea, ok? E saiu do bloco. O Leo olhou pra mim e disse "ok?" Como quem diz: você não vai criar caso, né? Nem sei o que eu senti nessa hora. Um misto de frustração, medo, arrependimento.. ai! Tinha um relógio pendurado na parede e eu não conseguia tirar os olhos dele. Quando Dr. João entrou na sala eu comecei a chorar compulsivamente. Eu estava encurralada. Não conseguia parar de chorar. Me deitaram na maca para tomar a Ráqui e lá vai eu ficar que nem estátua sentindo contração. Eu só pedia pro Dr. João, pro Léo e pra todo mundo não amarrarem meus braços, não me sedarem e para trazerem Malu pros meus braços imediatamente após ser retirada. O Leo ficou do meu lado, e a Érica tirando as fotos. Pedi para abaixarem o campo cirúrgico, pois queria ver quando ela saísse. Quando ouvi o chorinho meu coração disparou. Pedi para colocarem ela para mamar. Ela estava chorando forte e quando veio pro meu colo (literalmente o colo) parou e me olhou. Vendo as fotos, posso jurar que vi um sorriso.  Pedi para colocarem ela para mamar. Mas naquela posição era muito complicado. Estava com medo de pegá-la, de machucá-la (ai que arrependimento!). 










Então logo a levaram para longe para as avaliações, pesar, medir, pingar colírio, aspirar e todas essas agressões a um serzinho tão indefeso, que acabou de sair de um lugar quentinho e escuro. 



















Agarrou o dedo do pai





Depois me levaram para a sala de recuperação, para aguardar o efeito da anestesia passar. Ouvi dizer que só deixam a gente ir pro quarto quando conseguimos mexes os pés. Acho que minha vontade de pegar logo minha filha era tanta que em nenhum momento perdi os movimentos dos pés. Mas mesmo assim tive que ficar uma hora deitada na maca, naquela sala... Quando me levaram para o quarto Malu não estava lá. Pedi que minha mãe e o Leo fossem imediatamente buscá-la. Quando chegou quis logo colocá-la no peito para mamar. Ela veio igual um cachorrinho (olha a analogia de novo!) procurando o peito, cheirando...rs! Quando Malu começou a mamar eu fiquei em paz. Ainda estava sob efeito da anestesia (estou até hoje!) e não sentia dor, apesar do incômodo de estar conectada ao soro, que dificultava quando precisava tirar a camisola da maternidade para amamentar. E não conseguia me levantar sem ajuda. Lembro que queria ficar alí, com meu bebê no colo pra sempre. Mas todos me diziam para colocá-la no berço, pois iria cansar seu corpinho. Gente, parece que me deu um branco de tudo o que havia lido e aprendido durante a gravidez. De que o colo da mãe é tudo o que o bebê quer quando nasce e pelo resto de sua vida de bebê. Ficar na maternidade por 3 dias por causa da cesárea foi uma tortura pra mim. Eu estava exausta e sentindo dor. Não tomei analgésicos, pois Malu já havia recebido química suficiente no parto. Não consegui fazer xixi por dois dias por causa da anestesia e as enfermeiras diziam que se não conseguisse colocariam sonda. Deus me livre! Graças à Deus, depois de me concentrar profundamente nos meus movimentos perineais, consegui e foi um alívio (muito anti-romântico contar isso aqui, mas tenho que ser fiel aos fatos!). 


Primeira mamada!



Recebi muitas visitas queridas na maternidade. Me senti acolhida naquele momento de fragilidade. Estava um pouco envergonhada, porque estava parecendo um farrapo humano. Cheia de olheiras por ficar sem dormir (não preguei o olho na maternidade), descabelada (nem me lembro porque, mas não lavei s cabelos lá), ainda inchada e praticamente nua na frente de todo mundo, porque não me lembrei de comprar roupas para amamentar, então ficava só de camisola, um trapo!


 Ana e João, amigos queridos



Juliana e Luciana, primas do Leo




 Lydi (amiga-irmã) e Emerson amigos queridos e culpados pelo nascimento de Malu, hehe


Marina, tia (irmã de coração do Leo)





Da esquerda pra direita: Lidia (mãe da Lydi), Lílian (tia e madrinha, irmã do Leo) Gê (vovó, mãe do Leo), Nenzinho (vovô, pai do Leo), Lydi e Emerson, Leo (papai) Eu (mamãe) Malu (bebê) André (tio e padrinho, meu irmão), Bruno (tio, meu irmão), Daniel (tio, meu irmão) Fernando (vovô, meu pai).


Izabella, minha prima



Cristiane, prima do Leo



Marcus e Fernanda, sócio do Leo com a  esposa



Mas enfim, esse texto desse tamanho não poderia terminar assim, sem mais. Aqui vão algumas conclusões, erros, lições e dicas para quem quiser ouvir e aplicar:




1 - Não contratei uma doula. A doula, para quem não sabe, é uma mulher que acompanha e dá suporte físico e emocional (principalmente) a outras mulheres antes, durante e depois do parto. Ela pode fazer massagens para alívio da dor, sugerir posições mais favoráveis ao parto, pode ser uma porta-voz das vontades da parturiente, uma vez que esta precisa estar relaxada e não preocupada com as burocracias e protocolos. Ela tranquiliza e encoraja a parturiente. Ela dá suporte ao marido desesperado e deixa a parturiente livre para relaxar e o trabalho de parto fluir.


2 - Fui cedo demais para a maternidade. O ideal é aguardar até que o trabalho de parto esteja bem ativo, pois o ambiente hospitalar pode inibir ou até mesmo travar o trabalho de parto. Sem contar que a partir do momento em que se entra no hospital é acionado um cronômetro em que time is money.


3 - Não desliguei o neo-cortex (parte mais desenvolvida e complexa do cérebro, que está envolvido com movimentos voluntários, racionais). Como já contei aqui no blog, o trabalho de parto, ou seja, as contrações do útero dependem da liberação de um hormônio chamado ocitocina, que é estimulado pelas endorfinas  e inibido pela adrenalina, ou seja, precisa de um ambiente propício e de muito relaxamento. O medo, a angústia, a tensão liberam adrenalina. Ficar contando contrações, olhando relógio, medindo dilatação, preocupação com o Leo e todos lá na recepção me achando uma louca por não querer anestesia e ficar andando pelo corredor, somados ao ambiente hospitalar, me deixaram tensa e isso dificultou o trabalho de parto.  


Vocês devem estar agora se perguntando: Ué, mas porque essa ladainha toda? Essa lamentação? Maria Luisa, graças à Deus, não nasceu bem, não está aí linda, esperta, saudável? Não correu tudo bem? Você está bem! Sim, minha gente! Graças Deus tudo correu bem! Eu agradeço todos os dias por isso. E hoje estou muito resignada pelo meu não-parto. Mas continuo não desejando uma cesárea nem para meu pior inimigo espiritual (porque encarnado não tenho nenhum, graças à Deus). Eu questionei minha cirurgia por muito tempo. Fiquei achando que tinha sido desnecessária. Mas hoje até aceito a possibilidade de ter sido bem indicada. Até porque confio no Dr. João Batista, que é um médico muito consciente a não me faria correr esse risco em vão. E hoje, me lembrando, eu lamento sim por não ter sentido meu bebê nascer de mim. Por não ter vivenciado com prazer o meu trabalho de parto. Pelas dores que senti (dos pontos da cirurgia), pelo desconforto de me sentir presa, com movimentos tolhidos. Da angústia de não poder me levantar prontamente para acudir minha bbzica que chorava de noite. Pela depressão pós-parto. Mas lamento muito mais por que Malu teve que passar por todos aqueles procedimentos longe de mim. Que não mamou na primeira hora, dificultando a descida do meu leite (depois conto sobre a saga da amamentação). 

Malu não vai nascer de novo nessa vida. Para superar as dificuldades da cirurgia, me desdobrei e fiz por ela tudo o que ela precisava, mesmo que me custasse as vísceras!  E para o (s) proximo (s), pretendo fazer diferente o que fiz de errado dessa vez, mas acima de tudo, confiar em Deus e nos planos que Ele tem para mim.

Um beijo e obrigada aos que conseguiram ler até  final!


Maria Luisa nasceu no dia 02 de novembro de 2010, às 8hs de uma manhã chuvosa








quinta-feira, 29 de março de 2012

Pra não dizer que só falei das flores...

O famigerado, pijama.



Então gente, depois de apagar uns incêndios, tirar um bocado de poeira debaixo do tapete e finalmente tomar um banho de gente (e não de gato, como vinha sendo), meu próximo passo é voltar a ser uma cidadã economicamente ativa. Sim, ser mãe em tempo integral tem muitos bônus, mas destes eu já falei. Hoje eu quero compartilhar os ônus dessa escolha.

Muita gente acha que ficar em casa cuidando dos filhos (da filha) é o mesmo que estar de férias. Brincadeiras, carinhos, "banhinhos", cochilos no meio da tarde. E tem quem pense que é como um comercial de margarina ou de inseticida. A mãe impecável, a casa impecável, a criança impecável. Acontece que está todo mundo redondamente enganado e, a não ser que exista uma pessoa para cuidar de cada item acima (Mãe, casa, criança), na real, a lógica é assim: se cuido do bebe,não cuido da casa, se cuido da casa, não tiro o pijama, se tento lavar a louça, o bebê esgoela de chorar; e se tento dormir enquanto o bebê dorme, eu não como, não vou ao banheiro, não tomo banho e nem tiro o pijama e ninguém cuida da casa; e aí, sabe quem mais sofre? Os cabelos da mãe, que vão da juba ao irremediável coque. É verdade. Eu desfiz vários contos de fada no dia em que cheguei da maternidade com Malu nos braços, depois de uma cesárea  (depois eu conto como foi). Quis voltar correndo pra lá. Quis colocar Malu de volta na barriga e só tirar depois que fizesse todas as viagens que não fiz, os cursos que não fiz, os prêmios nobel que não ganhei, os filmes que não ví,  as refeições tranquilas, o sono... Ah, o sono! Eu tive a mesma sensação de quando eu insistia pra minha mãe me deixar ter um cachorrinho e quando ele chorava desesperado de noite eu pensava: "amanhã vou lá e devolvo". Mas agora era diferente. Eu não tinha pra quem devolver o cachorrinho, quer dizer, o bebezinho. Calma, gente!Não fiquem com vontade de me enforcar! É que para uma mãe recente que não tinha nenhuma referência anterior de maternidade, que não carregou primos ou irmãos reçém-nascidos, nunca havia trocado fraldas na vida, e a única experiência de alimentar outro ser tinha sido com filhotinhos de cachorro desmamados precocemente, eu não tinha repertório para pensar de outra forma. Mas aos poucos fui pegando o jeito da coisa, aprendendo todo dia. Aí depois de uns 3 meses trocando umas 20 fraldas por dia, dando uma média de 3 a 4 banhos (Malu nasceu num calor de matar), de passar 2 semanas sem pregar os olhos de pura neurose, comendo 3 colheres de sopa em cada refeição, ficando com os braços dormentes de tanto "colo-pé-balançando", (porque carrinhos, bb conforto, andadores, chiqueirinhos, pra mim foram feitos pra passear e/ou entreter, e não pra carregar o bebê 25 hs por dia). Eis que caiu a ficha de que aquela filhotinha era minha e eu tinha que me virar nos 30 pra dar a ela tudo o que ela precisasse, mesmo que isso significasse deixar de lado minhas necessidades de ser humano preguiçoso e egoísta (que drama!). E com o tempo fui aprendendo a minimizar as frustrações e facilitar minha vida. Até aprendi a lavar os cabelos (que obviamente tive que cortar) com bb no colo minhocando. E a fazer todo o resto nessa mesma posição. Senti falta de ir ao salão de beleza mais vezes (de preferência quantas fossem necessárias), de cozinhar calmamente (experimenta fazer um risoto com uma criança agarrada na sua perna), de namorar sem ter de fazer pit stop de 2 em 2 hs... Enfim! Eu acho que poderia ter sido mais leve. Claro que eu revejo minhas condutas o tempo todo e tenho consciência de que cometi váááários erros na intenção de acertar, ou melhor, de ser perfeita, porque é o desejo de toda mãe. Eu acho sim, que mais importante do que ficar no colo 24hs é o bb ter uma mãe tranquila, feliz e relaxada, mesmo que isso signifique delegar por uns minutinhos ou horinhas os cuidados com ele a outra pessoa. O pai, por exemplo (aguardem um post especial para este personagem). Mas por outro lado, tem coisas que inevitavelmente terão que ser adiadas. A carreira, por exemplo. Quando me senti pronta para retomar minha vida profissional, que estava apenas começando quando fiquei grávida, encontrei uma série de dificuldades, principalmente vocacionais (acho que isso foi perceptível). Eu me formei em Publicidade e Propaganda, mas as experiências na área me mostraram que não era exatamente o que eu queria. Então decidi ser chef de cozinha, porque uma das coisas que mais amo fazer na vida é cozinhar. Mas depois de trabalhar em uma grande importadora de vinhos, a Mistral, descobri uma vocação que jamais imginaria: ser Sommelier, que tem tudo a ver com gastronomia. E estava tudo caminhando bem até aparecerem as duas listras azuis. Bom, aí quando Malu fez um ano eu decidi que faria a decoração e os doces de sua festa, porque fiquei decepcionada com o que tinha disponível no mercado. Amei fazer. Me senti viva, produtiva, criativa! Então, junto com minha amiga de barriga, Vívian Santos, decidi abrir um buffet de festas infantis. Fizemos uma festa, de 1 aninho da Rayssa, da Rafaelly e vimos que o buraco é beeem mais em baixo... Mas sabe o que eu descobri? Fazer festas não é minha paixão, mas essa experiência serviu para me tirar da inércia laboral em que estava. Me mostrou que estava na hora de me dedicar à carreira, de investir nas minhas potencialidades e ganhar dinheiro, porque, afinal de contas, crianças precisam muito de amor, cuidados, carinho, referência, mas também precisam comer, se vestir, ter lazer e eu também! Então, comunico oficialmente e deixo registrado aqui no blog que esta cidade, este país, o mundo está prestes a conhecer sua mais nova Sommelier, e que pretende estar entre as melhores, hehe! Que os anjos digam Amém!

quarta-feira, 7 de março de 2012

Estamos todos bem!

Nossa, como é bom voltar aqui! Da última vez que postei ainda carregava Maria Luisa nos compartimentos internos... E ela ainda nem se chamava Maria Luisa, era só Luíza... Hoje já está com 1 ano e 4 meses e, como vocês podem imaginar, de lá pra cá muuuuita coisa aconteceu e vou demorar quase o mesmo tempo para registrar tudo aqui. Bem, não tudo, porque senão vamos viver de flashbacks. Mas vou ver se consigo contar, bem resumidamente, o que nos passou nesses 16 meses (parei de contar o tempo em semanas). Vou ter de entrar em detalhes em alguns momentos para tentar reproduzir as emoções (e foram muitas!).

Vamos começar? Em primeiro lugar, não queria ter ficado ausente por tanto tempo. Achei mesmo que conseguiria atualizar esse blog praticamente real time. Que ilusão! Eu lia tantos blogs de mães de bebês, com novidades diárias, onde eu aprendi tanto com seus cases de sucesso ou não, que minha intenção era fazer o mesmo pelas outras mamys desorientadas como eu era (era?) quando estava esperando Malu. Acontece que se hoje estou aqui, sentadinha escrevendo é porque nossa protagonista não está em casa. Sim, ela começou bem cedo a vida acadêmica...

O fato é que desde que Malu nasceu eu, por opção, escolha, princípios, convicção, decidi passar junto dela o primeiro ano de sua vida. Mas junto mesmo, grudada! Queria ser quem lhe (re) apresentaria o mundo aqui do lado de fora da barriga e das nebulosas de onde veio meu anjinho. Queria que fosse das minhas mãos que ela se soltasse para os primeiros passos da vida. Que fosse eu a pessoa a lhe mostrar os sabores, os cheiros, os sons, as texturas... Queria ser para ela a ponte sobre a qual ela passaria rumo às descobertas tão incríveis na primeira primavera de um ser. Tudo é novo! E assim foi: cada momento de transição, foi preparado amparado para ser muito suave, muito leve e seguro. E Malu ía... crescia, se desenvolvia, aprendia. Amamentada ao seio, que foi (e é) sua fonte de alimento para o corpo, a mente e o coração, ela sabia que podia voar livremente e que sempre poderia voltar para o ninho, sempre disponível, acolhedor. Nós fomos uma só por muito tempo depois que ela nasceu. Vivenciamos intensamente a exterogestação, de que todo bebê humano carece, pois nasce por demais imaturo (o mais imaturo de todos os mamíferos). Mas tamanha era a confiança na vida, no mundo, e era tanta sede de viver, de (re) conhecer as coisas, as pessoas, que Malu não queria "perder" tempo. Aos 2 meses já se sentava com apoio, aos 3 rolava pra todo lado, buscando tudo à sua volta e fugindo da troca de fraldas (rebelde!). Aos 5 já ficava de 4 apoios, querendo a liberdade de ir e vir. Aos 7 tivemos que abaixar as grades do berço para que não fugisse pela casa a fora em busca de aventuras. Quando completou 10 meses ficou de pé sem apoio e aos 11 andou. Ou melhor, correu. E não parou mais...rs! Uma vez um casal no shopping disse pra gente: "Eles só aprendem a andar aos 3 anos... Até lá é só correr". Dito e feito! E foram muitos tombos, joelhos ralados, roupas sujas (imundas) e mais sorrisos do que choros. Ela só olhava pra mim a pedir um carinho, um alento para aquele "sofrimento" que é crescer e recebia de volta a confiança para se levantar e continuar a desbravar.
Quando me lembro de tudo parece que foi há taaanto tempo! É como tivessem se passado 10 anos! Deve ser porque o primeiro ano é o de maior complexidade para o ser humano. Ele tem que ser cercado de cuidados porque as impressões causadas nessa fase ficam para sempre no subconsciente, determinando, muitas vezes, o tipo de pessoa que seremos pelo resto da vida. Ou pelo menos como vamos lidar com as situações ao longo dela. É a base, a referência, é o período em que desenvolvemos, (ou não) medos, ansiedades, angústias. Mas também auto-confiança, auto-estima, desenvoltura. E é quando desenvolvemos (ou não) as intolerâncias do organismo, as alergias, as pré-disposições a doenças. Mas isso é óbvio! É justamente quando nos expomos a tudo o que vai nos cercar pelo resto de nossas vidas. Todos os alimentos, cheiros, bactérias, vacinas (para quem vacina), incidência solar...

Por esses e outros milhões de motivos que nem preciso citar aqui, que eu fiz a escolha de ser MÃE em tempo integral nesse primeiro ensaio de Malu para sua vida. Decidi não delegar essa tarefa a outras pessoas. Não foi NADA fácil. Tive que abdicar de muitas coisas. Adiar, na verdade. Eu me entreguei de corpo e alma a essa missão que Deus me confiou, porque não saberia fazer diferente. E passou tão rápido, se paro para analisar! Malu ainda é um bebê. Ainda tem muitas necessidades de bebê. E vou continuar a suprí-las no tempo em que estivermos juntas. Mas sinto que eu e ela estamos prontas para dar alguns vôos solo. Sempre retornando ao nosso ninho para que sejam, diariamente, reafirmados o amor, a confiança a segurança. Vai chegar o momento em que minha pequena não será mais pequena e vai querer sair por aí para aprender com a vida o que eu não pude ou não soube ensinar. Mas onde quer que ela vá, vai levar para sempre o maior ensinamento, o maior lenitivo: O amor!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Quando Tecnê venceu Gaia - por Kalu Brum




"Eles decidiram ter um bebê, numa noite de Lua Cheia, depois de assistirem a um vídeo proibido com suaves insinuações de cenas de sexo natural.
Nunca mais se ouviu falar de alguém que tivesse conseguido fazer um filho por vias naturais. Todos os amigos, inclusive aqueles que tentavam uma fecundação normal, não tinham tido êxito.
Por um segundo pensaram em tentar ali mesmo, naquela sala, em casa. Mas já tinham ouvido relatos dos perigos da contaminação da cavidade vaginal, de espermatozóides velhos que produziam crianças defeituosas ou pior, lidar com a perda do bebê. Todo mundo sempre tinha um relato desses quando o assusto era fecundação domiciliar:
- Fulana foi optar por essa fecundação em casa e o bebê dela nasceu defeituoso. Imagina um bebê que não chora e mama no peito?! Que coisa animalesca. Somos humanos e não mamíferos. Esses pais não pensam no futuro da humanidade? Não somos bicho! Até cachorro se reproduz em laboratório. Esse negócio de fecundação em casa é coisa do passado. A tecnologia está aí para nos servir. Ainda mais que é uma heresia permitir este comportamento animal. Vamos retroceder? Profanava tia Lili, sabendo dos instintos dos pares recém casados.
Naquela noite eles dormiram de mãos dadas. Ele sonhou com cachorros que em sua infância faziam fecundação direta. Acordou com o falo enrijecido. Foi tomar banho gelado.
Na mesa do café foi recebido por sua cadela castrada. Ainda bem, pensou ele. A mulher mostrou-o um papel com o nome de um fecundologista indicado por uma amiga. Muito embora sua conhecida não tivesse conseguido sua fecundação normal. Mas, segundo ela, ele teria tentado de tudo para ser normal.
O marido se lembrou de um amigo que tinha conseguido uma fecundação em casa. Mas a moça lembrou:
- Lembra dos conselhos da minha tia. Não quero uma criança diferente. Vai que ela vai querer o peito que nem a filha de seu amigo.
E ficaram vários minutos falando da promiscuidade da amamentação direta. Terminado o café, a moça pegou o telefone para marcar a consulta e a atendente perguntou:
- Particular ou convênio?
- Convênio.
- Dr. Vidigal só tem consulta para aqui 2 meses. Falou a fanhosa e atrapalhada atendente.
- Nossa! Bem, então marca particular a primeira consulta e depois checamos se podemos fazer o restante pelo convênio. Disse a moça.
-  O valor da consulta é 320,00. Informou a secretária.
A moça disse que retornaria em minutos. Explicou a situação para o marido que vendo os olhos brilhantes da esposa, não pode dizer não.
- Meu bem, a gente pede um empréstimo. Pode marcar.
Ela ligou para atendente que disse que o doutor só poderia atender a consulta no dia seguinte:
- Hoje é o dia que ele faz as fecundações na clínica.
- Como assim, disse a moça? Mas ele sabe o dia exato que a mulher pode ter a fecundação? E todas as mulheres têm a fecundação no mesmo dia?
- Querida, sou só a secretária. Mas durante sua consulta de 30 minutos você pode tirar todas as suas dúvidas.
- Marca para amanhã, as 9h, por favor.
Depois de pegar o endereço a moça desligou o telefone. Sentiu uma estranha sensação de estar quase grávida. Ao olhar para o lado, viu a cadelinha fazendo movimentos sexuais na almofada. Repreendeu-a com violência, colocando a cadela na varanda.
- Amor, temos que dar um jeito nesta cadela. Ela ainda é muito animal.
- Vou checar com o veterinário se há algo para controlar… isso, querida.
Naquela noite dormiram satisfeitos. Ele voltou a sonhar com seu trabalho.Números, reuniões.  Acordou no meio da noite cansado, mas aliviado, acreditando ter sido um sinal de que tinham feito a escolha certa. Afinal, tudo estava de volta a normalidade...


...Logo no comecinho da noite  ela acessou lembranças velhas em seus sonhos. Era sua avó paterna, uma mulher que tivera profundo impacto na sua infância. A simpática velhinha sempre falava, com orgulho, do nascimento de seu filho, em um parto domiciliar, em uma época em que as cesáreas estavam estabelecidas como a via de parto mais segura e economicamente viável para uma grande massa de usuários de planos de saúde.
Aquele passeio onírico fez com que, apesar do medo, apesar da falta de referências atuais, ela quisesse ainda mais a fecundação direta assistida. Voltou a dormir. Depois foi ele quem acordou e, ao fitar as formas arredondadas e delicadas de sua companheira, precisou de uma nova ducha gelada. Algo estava mais estranho naquela manhã.
Durante o café, a moça mostrava tensão, na boca contraída a tomar um chá e as mãos que não descansavam. A cadela, como todas as manhãs, fazia seus animalescos movimentos sexuais em sua almofada preferida, que foram ignorados por ele, em um misto de inveja e compaixão.
O silêncio tenso anunciava a o momento da consulta. Oito da manhã, estavam roboticamente se dirigindo ao veículo para percorrerem em 1 hora, apenas 2 quilômetros.
A clínica do Dr. Vidgal ficava em um ponto central da cidade de prédios gigantescos e a grande sala de mármore branco estava no andar 69. A secretária parecia mais fanhosa pessoalmente, com seu grande nariz fino e vermelho, constantemente limpo por lenços de papéis. Um sempre estava milimetricamente dobrado e próximo suas mãos. Ela dobrava e redobrava o lenço enquanto conversava ao telefone ou atendia a um paciente, com sua habitual cara de poucos amigos.
Evagine, o nome que mostrava no crachá, logo foi pedindo para que o casal fizesse o cheque. Aliás, esse pedido foi feito logo após ao embargado  bom dia que emitiram ao entrarem na clínica.
O consultório estava cheio, mas Evagine alertou-os que o doutor é rigoroso com horário:
- É proibido gravar a consulta, fotografar. E não façam muitas perguntas. Lembrem-se de que o doutor é ele, alertou fanyhosamente e limpando sua fossas nasais.
A moça não conseguia parar de pensar em sua avó e seu parto domiciliar. Indagava-se internamente sobre a coragem daquela mulher, que tornou pública sua experiência em um blog com um nome bem selvagem: mamíferas.
- Amor, você tomou sua pílula da paz? Interrompeu ele os profundos pensamentos da moça.
Ela havia se esquecido. Era a primeira vez em muitos anos. Talvez ali estivesse a explicação por seus questionamentos estranhos. Como numa cena de filme antigo, conseguiu resgatar o exato dia que ganhou a sua primeira cartela das pílulas de alegria e paz, para domar os conflitos de seus 13 anos. Era padrão governamental e medida de segurança nacional que todos os cidadãos se mantivessem sob efeito de medicamentos para o bem-estar da humanidade.
Evagine pede para o casal entrar. Eles caminham lado a lado, em um passo sincronizado de agonia.
Atrás de uma grande tela de computador, um pequeno ser, com pouco cabelo, baixo, com bigode grisalho e óculos, permanecia imóvel. Convidou-os para sentar, sem dirigir o olhar sequer para seus rostos. Seus olhos eram a tela a exibir o histórico do casal fornecido pelo registro nacional de planos de saúde.
- O pagamento da consulta foi realizado para Evagine?
- Sim senhor, responderam sincronicamente.
- Aviso que os senhores têm exatos 28 minutos para esta consulta.
- Doutor,  queremos tentar a fecundação assistida direta. Falou a moça atropeladamente para não  perder a coragem.
Diante da revelação ele olhou para o rosto do casal com incredulidade.
- A humanidade é engraçada. Inventamos uma forma de reprodução segura, com seleção de genes e óvulos perfeitos e as pessoas ainda desejam a reprodução direta? Nossos antepassados viveram isso com o parto. Há 100 anos casais faziam resistência a modernidade da cesárea e optavam por partos domiciliares.
Ficou ligeiramente vermelho com essa lembrança que o desconcertava. Eele era um homem da ciência. Continuou:
- A senhora está disposta a menstruar? Já terá que abrir mão do uso de suas pílulas para uma gestação sem anomalias fetais e que pode causar distúrbios emocionais graves. Por isso não vejo a hora que o protótipo do ventre esteja em operação. Assim livraremos a humanidade para sempre das mudanças emocionais da mulher e a terrível influencia que isso traz para os fetos. Sem afeto, sem choros, sem neuras a humanidade será mais perfeita.
Ela se lembrou da primeira vez que recebeu o chip para torná-la uma mulher moderna e não lidasse mais com o sangue desnecessário. Como todas as mulheres do planeta, aos 9 anos,  começou a receber hormônios para que nunca sangrasse.  Como seria menstruar? Como seria lidar com a vida sem as pílulas?
- Iremos tentar, doutor. Pelo menos uma vez. Se não der recorreremos ao meio tradicional, amenizou o rapaz.
 O médico suspirou aliado.
- Peço que o senhor saia pois examinarei sua senhora.
Ela se dirigiu ao banheiro, recebeu um jato de água nas suas partes íntimas e em seguida uma ardida desinfecção completa, de seus orifício íntimos. Colocou uma camisola longa pensando porque o orifício de eliminação entrou na história.Deitou-se na maca eletrônica, com cheiro de fármacos. Ele introduziu em suas partes um objeto fino com uma câmera na ponta.
- A senhora é uma mulher de respeito. Teremos que remover seu lacre. Mas o aparelhinho robótico  fará o trabalho. Informou tecnicamente o médico.
- Vejo que a senhora não também não tem lubrificação natural. Tem certeza que quer tentar a  fecundação direta?
-Tenho sim senhor, respondeu a moça.
- Problema de vocês. É sempre assim: a gente tenta e vocês falham Mas aí o bebê chega de qualquer jeito. Quer dizer, do nosso jeito.  A partir de hoje pare com as pílulas. Como a gestação é uma grande patologia, uma clínica de suporte emocional estará a disposição de seu pré-natal para o uso de métodos como camisa de força e sedação. Aqui está a lista de exames a fazer. Espere sua menstruação retornar e assim que isso acontecer, agende para a fecundação para segunda mais próxima.
- Mas esse é o dia certo?
- A senhora quer saber mais do que eu?
- Claro que não, Dr. Vidgal. Imaginei que cada mulher tivesse o dia certo de fertilidade.
- A senhora acha demais. O médico sou eu: fecundologista. Sem minha atuação a fecundação não acontece. O mal da humanidade é achar de mais e saber científico de menos. Pode chamar se marido para examinar o tamanho do seu falo.
- Amor, agora é sua vez.
Ele entrou novamente na sala. O doutor estava tenso, mas ainda sem mover os olhos da tela. Ele foi ao banheiro, passou pela ardente limpeza das partes e do ânus, sem direito saber a razão do envolvimento de seu orifício na história.
O Médico pediu para que exibisse o membro. Ele o fez com certa vergonha.
- Trata-se de um exemplar acima da média. Sua mãe não fez a correção em sua infância? Isso deve ter gerado traumas no senhor.
- Evito usar o mictório, Dr. Vidigal.
-  Bem, diante do falo grande, posso dizer que as chances de conseguir a fecundação direta são menores. Desproporção fálica vagínica é indicação fecundação in vitro.
- Mas queremos tentar, doutor.
- Terei que cobrar um adicional por isso. Mas conversaremos melhor no dia. O tempo acabou. A lista de exames está com sua esposa. Sigam corretamente as instruções e até mais.
Saíram do consultório rumo a seus enfadonhos  trabalhos. Ela só lembrava-se da sua avó. Ele, sem saber por que, gostou de ter ouvido sobre o seu grande falo. Talvez ainda fossem um pouco animais e não soubessem disso...


...Os dias foram passando e a moça começou a sentir coisas estranhas. Seu corpo tremia por conta da ausência dos medicamentos. A abstinência lhe dava uma sensação de desencaixe desesperadora. Ela sofria por olhar para as cidades e não ver árvores, que chegou a conhecer pequena e tocavam seu coração com uma sensação estranha de felicidade. Uma tristeza na alma lhe visitava por pensar que as crianças não eram abraçadas, que mal conviviam com seus pais. Ela buscava o sentido de viver em um mundo sem flores em que a vida se resumia a trabalhar dia e noite.
Seu marido a lembrava, todo tempo, que os sentimentos e pensamentos eram conseqüência da falta dos medicamentos. Tia Lili, que soubera do desejo da fecundação, falava ao telefone:
- Sem as pílulas de paz e felicidade um desejo animal poderá lhe tomar. Seja forte. Você deve fazer o melhor em prol da humanidade. Lembrava a rechonchuda velhinha.
A moça se sentia mais e mais confusa. Começou a ficar agressiva. Chorava com comerciais da televisão, discutiu com o chefe que reclamou do atraso. A clínica de acompanhamento psiquiátrico para grávidas ligava diariamente e a moça mandou a atendente de telemarketing dar a periquita. A robótica assistente disse:
- ” Devo estar te lembrando” que ter animais de verdade em casa, ainda mais aves, não é legal.
Antes de falar algo mais profundo, envolvendo orifícios impronunciáveis ela respirou fundo e se lembrou das alterações hormonais. Conseguiu uma licença e passou o dia procurando por velhas fotos. Achou o diário de sua avó. Ela se sentia mal com o mundo, mas pela primeira vez, era como se vivesse uma vida real. Ela estava confusa e animalesca.
Uma manhã, depois de sonhar a noite inteira que fazia sexo com seu marido, em cenas que ela nunca ousou pensar, ela acordou úmida e sem culpa. Levantou-se, olhou no espelho e quando foi fazer xixi viu o sangue na calcinha. Ficou feliz, confusa. Era a primeira vez que isso acontecia. Ela tocou suas partes, cheirou o sangue e sentiu-se viva.
Colocou uma linda roupa vermelha, que havia achado no baú de sua avó e fez o marido estranhar porque ela, assim como todas as mulheres respeitáveis, só usava branco e cores pastéis,sem flores ou estampas.
O marido convenceu-a aceitar uma sedação para suportar as semanas posteriores, depois de ter tirado a roupa e se insinuado a ele, convencendo-o a uma fecundação domiciliar, ameaçando-o com uma faca se não o fizesse. Ele ligou para sua família. Depois de receber inúmeras ligações familiares,  a moça resolveu aceitar a ajuda e restabelecer a ordem das coisas. Sem forças para lutar, recebeu a enfermeira da clínica psiquiátrica, foi sedada e entubada até um dia antes da fecundação.
O marido ligou para a clínica de Dr Vidigal , informando que a esposa tinha menstruado e estava sedada. A voz fanhosa da atendente informou que a fecundação poderia ser feita em 15 dias, na segunda-feira, dia da fecundação de Dr. Vidigal, fosse ou não o dia fértil da mulher.
A moça estava como uma princesa adormecida em seu sono, aguardando pelo momento de ser despertada pelo príncipe e viver sua primeira (e talvez única) experiência sexual.
Ela despertou um dia antes. Estava confusa e perdida  como se tivesse habitado sonhos estranhos. Perguntou pelo filho, pelas árvores e flores. O marido consolou-a dizendo que aquele seria o dia da fecundação. Ela sorriu, com a boca ainda meio adormecida, efeito da sedação.
Chegaram a clínica. Mármore branco por todo lado. Cheiro de formol em toda parte.
Na recepção uma atendente rechonchuda e falante parecia com a Tia Lili.
- Fecundação in vitro?
- Não, tentaremos uma fecundação direta com Dr. Vidigal, falou o rapaz, enquanto a moça olhava para uma parede branca com olhos parados.
- O adicional pela tentativa é de 500 reais. Pagos a vista e sem direito de devolução em caso de falhas.
O rapaz suspirou e ofereceu seu cartão com pesar. Depois de assistir a transformação de sua esposa e acompanhar sua sedação, o rapaz estava confuso. Não sabia mais se queria ter um filho, tentar uma fecundação direta. Como seria conviver na mesma casa com um ser sem controles farmacológicos? Ele não conseguia esquecer a cena da mulher tirando uma linda roupa vermelha. Ele desejava aquela instancia colorida dela, como nunca. Mas tinha medo de ser diferente, medo de lidar com aquilo que não pode ser controlado. Ao mesmo tempo sentia-se excitado de uma forma incontrolável. Melhor pensar em algo brochante:
- Tia Lili, Tia Lili, Tia Lili. Pensava ele. A figura da mulher gorda, flácida e cheia de verdades fazia voltar ordem aos hormônios.
Foram chamados para salas separadas. Tiraram suas vestimentas e passaram em uma ducha de desinfecção completa. Suas partes íntimas foram lavadas e seus orifícios anais limpos como nunca.
Receberam uma camisola, um chinelinho da mesma cor, uma touca. Um orifício frontal na vestimenta do rapaz indicava o lugar de colocar o falo. A moça, de nádegas de fora, nunca se sentira tão exposta, tão vigiada.
Ela chegou primeiro a sala luminosa e fria, em que enfermeiros do lado de fora e aprendizes de fecundologista esperavam para assistirem à atuação do mestre: Dr. Vidigal.
Ela sentou-se recostada na maca. Suas pernas abertas e apoiadas no apoio de pés que ficavam em sua frente. Ela estava aberta, com as intimidades expostas.
Dr. Vidigal chegou falando ao celular. Lavou as mãos, colocou luvas. Fez uma gracinha com os assistentes. Ela sentia-se ainda sedada, estranha, violada.
Dr. Vidigal olhou os exames e perguntou:
- Tem certeza que quer continuar com isso? Podemos acabar tudo e simplesmente tirar seus óvulos.
Ela falou, envergonhada:
- Quero tentar. Me ajude, por favor!
- Vamos, querida. Faremos tudo o que é possível.
E antes de completar a frase, Dr. Vidigal enfiou abruptamente 2 dedos na sua vagina, fazendo a moça quase pular da maca.
- Mas não há lubricação! Teremos que usar a lubrificação induzida.
Introduziu em sua vagina um tubo lançando um gel relativamente quente para dentro dela.
- Pode chamar o marido, ordenou o médico.
O marido entrou confuso, com o falo exposto e tímido.
- Vamos rapaz, você precisa fazer este falo fiicar rígido.
- Como eu faço? indagou o rapaz.
Dr. Vidigal pigarreou a garganta e disse:
 - Na faculdade de fecundologia, existe uma manobra que ensina que, ao friccionar a glande, a ereção acontece.
Os alunos do lado de fora aplaudiram a explicação precisa do famoso doutor.
O rapaz tentou a fricção com as mãos com luvas, enquanto a esposa estava preparada para receber o falo, com a lubrificação artificial em atividade.
- Mais rápido. Isso. Friccione mais. Orientava Dr. Vidigal.
O rapaz tentava pensar o que aquilo tudo significava. Com a fricção conseguiu um pênis semi-ereto. Dr. Vidigal disse que se era o máximo, que deveriam tentar assim:
- Depois eles querem o dinheiro de volta. Eu tenho culpa se tem coisas que não se elevam. Brincou o simpático doutor com os aprendizes. Aproxime-se rapaz.
- O que eu devo fazer? Perguntou confuso.
Seu pênis deve entrar na cavidade vaginal de sua esposa. A fricção deve acontecer internamente, até, se conseguir e ela agüentar, você for capaz de expelir seu sêmen dentro dela. E, se tiverem sorte, a fecundação acontecerá. Caso não ocorra, deverão passar por tudo isso novamente ou pararem com essa loucura e valer mão da fecundação in vitro.
O rapaz se aproximou e tentou introduzir o pênis. O membro pouco rígido escorregou. Todos estavam olhando a performance desajeitada do rapaz, riam e cochichavam.
Mais uma tentativa e o encaixe aconteceu. A mulher deu um pulo e gritou.
Dr. Vidigal a segurou e solicitou:
- Amarrem os pés e mãos dela.
As enfermeiras cumpriram as ordens e o penis do rapaz voltou ao estado inicial.
Dr. Vidigal orientou a nova manobra de elevação, desta vez, em vão. O rapaz tentou com o membro flácido. Escapou várias vezes da cavidade. A cada aproximação a mulher pulava, olhava de lado para não assistir a cena. Por fim, ele desistiu, quando a esposa o olhou e disse:
- Chega. Vamos fazer como todos fazem.
Dr. Vidigal sorriu e disse:
- Não adianta inventar. Tentamos de tudo. Mas o corpo humano é falho. Vamos recorrer a ciência.
Os alunos aplaudiram.
- Vou retirar seus óvulos e você será orientado a extração do esperma. O procedimento de fecundação custará 5 mil reais.
O homem olhou para o rosto da esposa que disse:
- Dr Vidigal, podemos voltar outro dia? Acho que não conseguirei passar 9 meses sem medicamentos.
- A senhora pode solicitar no seu trabalho uma licença de sedação não remunerada e passar os 9 meses dormindo. Você não irá sentir nada.
- Eu vou pensar, Dr. Vidigal.
- A senhora não foi feita para pensar, moça. Deixe isso para quem pode fazer diferente. Você deve seguir o que deve ser feito. Reproduzir, se tiver recursos financeiros, trabalhar para pagar seu sonho e garantir o futuro desta criança.  Só os ricos se perpetuam.
O efeito da sedação estava passando. Ela queria voltar para a sua vida. Ela queria parar de pensar. Ela queria sentir-se igual a todo mundo. Naquele momento ela só queria cobrir suas intimidades, ter braços e pernas desamarrados. Dr. Vidigal ainda fez algumas piadinhas antes de liberá-los, embolsando seus quinhentinhos.
Ela vestiu sua roupa pastel. Ele, seu uniforme de trabalho. E seguiram, lado a lado, perdidos e frustrados.
Ao chegarem a casa, a cadelinha fazia movimentos sexuais na almofada.
Ela se jogou na cama, sem banho, sem escovar os dentes, sem os mil procedimentos higiênicos indicados para mulheres integras como ela.
Ele fez xixi e pensava porque seu falo não enrijeceu como acontecia todas as manhas.
Ela seguiu para o banheiro. Olhou no espelho. Desejou viver no tempo de sua avó. E pensava num mundo em que a natureza tivesse vencido a tecnologia. Um mundo de mulheres que menstruavam, faziam sexo, pariam em casa, amamentavam no peito, como contava sua avó em seu diário. Mas a velhinha, previu, com tristeza o tempo de tecnê.  Será que Tia Lili estava certa: humanizar é usar o neocortex e suprimir o instinto animal?
Ela se olhou no espelho sem roupa. Tinha a pele alva, com curvas arredondadas. Nádegas firmes, seios com a auréola rosa. Era linda, feminina. Nunca se sentira assim antes. Ela tocou suas intimidades e cheirou os dedos. Usou como perfume.
Dirigiu-se a sala. Ao ver a moça se aproximar nua, o rapaz se sentou na cama. Ela, sem nada falar, começou a dançar, sem roupa. Ele tirou a roupa. Seu falo enrijeceu como nunca.
Eles se amaram a noite inteira, de mil e uma formas. Ela experimentou uma sensação melhor que uma overdose de pílulas da alegria. Ela sentiu seu corpo pulsar, sem controle, sem razão. Ele lançou seu sêmen para dentro dela, como se sempre tivessem praticado aquela dança.
Exaustos, com corpos colados, sentiam-se felizes, mais bicho do que gente.
Ele também jogou  fora os medicamentos. Já não precisava mais. Havia encontrado sua fórmula de paz e alegria. Voltava mais cedo para casa para dançar. Não ligaram mais a televisão. Os vizinhos achavam estranho os sons que emitiam todas as madrugadas. Sons animalescos.
Depois de alguns meses, a menstruação parou de chegar. Ela pediu para ele comprar um exame. As duas listras indicavam a gestação. Ela não sabia o que fazer. Não pertencia mais aquele mundo. Como diria a tia Lili que fez uma fecundação domiciliar? O que diriam as amigas e colegas? Como faria um pré-natal sem cadastramento a uma clínica de fecundação?
Ela não se importava. Agora tinha nas mãos o diário de sua avó:
- Se ela descobriu como parir em uma era cirúrgica, descobri como fecundar na era do vidro.
Elas estavam unidas, separadas por cem anos,  na esperança eterna de que Gaia ainda venceria tecnê."


por Kalu Brum

Pausa para respirar



Queridos,

Esses últimos dias têm sido um tanto reflexivos pra mim! Depois de tanto aprender, tanto me informar, me preparar fisicamente (a saúde vai muuuito bem, obrigada), me cercar de todos os cuidados e assegurar que a Luísa receba o que há de melhor, tanto durante tempo em que ela está morando aqui dentro de mim, quanto no momento em que ela resolver que está na hora de sair e depois, quando ela começar a interagir com o mundo aqui de fora. Agora que nos aproximamos da reta final, faço um exercício de "digestão" de tudo o que passamos até hoje, dos momentos difíceis, dos sustos, da alegria de cada novidade, da descoberta de um mundo novo. Mas junto com essa reflexão, vem também uma pontinha de apreensão, um medo de falhar, de não dar conta dos compromissos que assumi com ela e comigo mesma. Acho que isso acontece de uma forma ou de outra com todas as grávidas no fim da gestação... Antes era aquele medo do primeiro trimestre, de sofrer aborto, do bebê não se desenvolver direitinho, de ter algum problema de saúde na gravidez. Depois, quando a barriga começa a apontar, a gente fica com medo de cair, de ser atropelada, de andar mais depressa (pras sedentárias como eu, rs!) pra não ter impacto no bebê. E agora, no último trimestre, quando a data do parto está cada dia mais proxima, a cabeça da gente é invadida por um monte de "SE's". "E SE eu ficar nervosa?" "e SE eu não tiver apoio?" "E SE eu tiver que brigar pra ter um atendimento respeitoso?". Esses questionamentos existem porque sinto que estou meio que sozinha na minha luta por um nascimento mais digno para minha filha. A maioria das pessoas à minha volta, quando não fazem comentários negativos, simplesmente ignoram o que eu digo, como se não fizesse sentido algum. E eu só compartilho essas decisões porque tenho o desejo de que todos tenham acesso às informações que com muita dedicação eu busquei, eu conquistei! E não simplesmente contar por contar. Eu queria ajudar essas mães que tiveram cesáreas desnecessárias e que não amamentaram por pura falta de informação, acreditando que não havia outra forma...

Enfim, nesses últimos dias eu percebi que precisava redirecionar meus esforços e minhas energias para a minha própria causa. Percebi que eu fiz a minha parte e multipliquei o conhecimento, mas que a partir de agora a Luísa precisa de todas as minhas atenções voltadas pra ela, que eu preciso desacelerar e desligar o neo-cortex desde já, pra deixar a ocitocina agir sem interferências.

A partir de hoje quero só curtir minha barriguinha (ona), tirar muitas fotos (finalmente), cuidar dos detalhes da decoração do quartinho, das roupinhas, namorar muuuito e ficar beeeem relaxada!! E quero também ficar mais pertinho de todas as pessoas queridas, que eu amo e preciso, mas agora ao vivo e à cores! Ai licença-maternidade, vemnimim!!!

Por isso, como último apelo (antes da Luísa nascer) contra o uso desenfreado de tecnologia para coisas que a natureza ainda faz muuito melhor, deixo (no próximo post) uma crônica espetacular e de certo modo chocante pela assustadora possibilidade de se tornar realidade, escrita pela Kalu Brum, jornalista, doula, mesre de Reiki e mãe, que escreve junto a outras meninas maravilhosas o blog Mamíferas.

Um grande beijo!!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Manifesto pela Valorização da Maternidade!!




Como vocês podem ver na minha lista de links afins, tem um blog que visito sempre, o Ombudsmãe, da Tais Vinha, mãe escritora e palpiteira como ela mesma se define. O blog dela é muito interessante, ela escreve posts fantásticos sobre maternagem, educação, família, alimentação, de uma forma muito consciente e descontraída.
Passeando por lá, vi uma campanha com a qual me identifiquei muito. É um manifesto sobre a valorização da maternidade. Assinei com muito orgulho.
Clique aqui para saber mais sobre a campanha e deixar a sua contribuição assinando o manifesto!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dias dos pais



Foi assim, de sopetão, que ele "virou" pai.
 Exames, sustos, medos, felicidade... Não estava nos planos. Mas a verdade mesmo é que já o era, sem saber. Afinal, pai não é aquela pessoa que acorda todos os dias com vontade de ser melhor, de fazer o mundo melhor,  que é exemplo? Não é quem cuida, quem ensina, quem dá bronca, leva pra passear? Quem pensa primeiro no outro antes de pensar em si? Pois o Leo já faz tudo isso muito antes de concebermos a Luísa, muito antes até de nos conhecermos. Faz com as "crianças" de todas as idades que que têm a sorte de tê-lo por perto, inclusive eu! E eu acho que nós já nascemos pais e mães (ou não). Os filhos vêm pra dar um foco, pra potencializar esse dom. Gerar filhos, parir é biológico, qualquer indivíduo saldável pode fazer. Mas ser pais não é pra qualquer um não. E nós temos muuuuita sorte minha filhinha, por ter por perto esse pai-nato. Que desde sempre teve tanto cuidado com você, desde quando ainda era um feijãozinho na minha barriga. Está sempre protegendo você, te dando carinho e amor, pra você sentir o quanto é bem-vinda, o quanto vale à pena. Cuidando de mim pra que essa casinha onde você mora há quase 7 meses esteja sempre em ordem e nada te falte. E hoje você até já reconhece e retribui o carinho do papai, fazendo festa na barriga toda vez que ele chega perto e fala com você; e os laços, que foram selados muuuito antes, vão ficando cada vez mais fortes. E quando você nascer vai aprender com ele a ser uma pessoa batalhadora, solidária, amorosa, honesta e responsável. Vai rir muito das piadas (sem-graça) dele e vai aprender com ele a contar as suas. Vai aprender a ter bom gosto (modéstia às favas, hehe!) a amar os animais, a valorizar e respeitar as pessoas e vai amar muito o seu pai, como eu o amo.  

Leo, meu querido.

Feliz todos os dias de sua vida!